O jarro (Khomreh, 1992, de Ebrahim Forouzesh)
Direção: Ebrahim Forouzesh
Elenco: Abbas Khavaninzadeh; Benhzad Khodaveisi; Fatemen Azrah
Duração: 86 Minutos
Lançamento: 1992
Produção: Irã
O filme iraniano, lançado em 1992, dirigido e roteirizado por Ebrahim Forouzesh, tem como cenário uma escola localizada em uma aldeia do deserto iraniano. O enredo gira em torno do jarro da escola, que é utilizado para saciar a sede dos alunos e do professor. Com uma configuração de escola bem carente de recursos financeiros, em uma cidade que parece ter sido esquecida pelo governo, a comunidade precisa se unir para consertar o jarro quando algumas rachaduras são encontradas e começa a vazar água. O jarro funciona como um ator protagonista no filme, pois é a partir dele que a história começa a se desenrolar.
O que se evidencia no filme é o papel do professor e da escola enquanto instituição diante da escassez de recursos financeiros e também humanos. A pedagogia tradicional fica evidente durante as cenas, onde o professor está no centro do processo de ensino como detentor do saber, utilizando da exposição verbal e memorização de conceitos — repetição de palavras — para ensinar seus alunos, as aulas são marcadas pelo autoritarismo do professor em relação a seus alunos e algumas vezes, utiliza também da violência física. A escola não era vista como importante por alguns dos habitantes da aldeia, pois afastava as crianças do trabalho.
A extrema pobreza da região do entorno da escola se demonstra pela dificuldade de reunir recursos para consertar o jarro, ou adquirir um novo. Este é de muita importância, tendo em vista a dificuldade de encontrar água potável diante do deserto iraniano: há um riacho, longe da escola, onde os alunos buscam água para se saciar. Quando se torna possível consertar o jarro, com a ajuda do pai de um dos alunos, surge outro problema: os alunos precisam conseguir algumas claras de ovo, cal e cinzas para que seja possível remendá-lo. Muitos conseguem trazer a cal e as cinzas, mas os ovos servem de alimento para as famílias e inicialmente não conseguem reunir a quantidade suficiente para consertar o jarro. O professor tem um papel muito importante na solução do problema, pois é ele quem instiga, organiza e guia os alunos.
Muitas são as dificuldades financeiras encontradas na escola, e alguns pais têm dúvidas quanto a qualificação do professor e seu desempenho. Entretanto, o professor recebe apoio de muitos outros pela dedicação ao ensino das crianças da aldeia. O conserto do jarro tem um significado pedagógico, acima de tudo. Os alunos são incentivados a aprender a serem mais solidários, unidos e a enfrentar e solucionar os problemas individuais e coletivos em prol do grande grupo. Além de oferecer e compartilhar o conhecimento, o professor doa a si e o seu alimento, também, mesmo sendo marginalizado — como várias cenas revelam, sua moradia e alimentação.
Mesmo com a simplicidade do filme, ele provoca muita reflexão que não se restringe apenas à esfera pedagógica, apesar de ter como cenário a escola, em grande parte do filme. Há um leque de possibilidades de discussão e reflexão, a partir do filme: o papel do professor na comunidade escolar e do entorno, a ausência do Estado, a precarização da educação, a concepção de infância, as diferenças culturais e sociais e etc. O que se evidencia é o papel determinante e fundamental da escola para as mais diferentes comunidades ao redor do mundo.
Escrito por: Amanda Lima, Dâmaris Viana Eduarda de Souza e Yasmin Roese