Sínteses/Resenhas de filmes

2 comentários:



  1. Vermelho como céu

    Cleonice Rosi Rauch Vieira


    O Filme Vermelho como céu, é uma produção italiana do ano de 2006, baseado na história verídica de Mirco Mencacci, renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana. Conta a história de um garoto de 10 anos, que ao mexer, por curiosidade, numa espingarda sofre um acidente e perde a visão. Rejeitado pela escola pública porque não é o considerado uma criança “normal”. Sem conseguir manter, financeiramente, o menino em casa, os pais, mesmo contrariados, o levam para estudar num instituto para deficientes visuais.
    O ambiente do instituto é totalmente diferente de tudo que o menino estava familiarizado, podemos apontar o primeiro desafio para esta criança que perde a visão e vai para um lugar que não esta acostumado.
    O autor e sua equipe conseguiram demonstrar dois, ou mais, lados de uma história vivida: o exterior ao menino(família, escola,...), interior desta criança que perde a visão e ainda sua relação com outras crianças e com adultos. Os momentos foram difíceis mas, junto com os amigos, descobre um novo jeito de ver o mundo.
    Este filme tem uma grandeza que acredito ser necessário olhar mais de uma vez para conseguir entender todas as informações que traz. No primeiro olhar a emoção é muito grande, os meninos (todos do filme) tem características diferentes que valem ser reconhecidas, um exemplo é o amigo mais próximo de Mirco, uma criança cega desde o nascimento, a forma como ele sente é diferente de alguém que perde a visão no decorrer de sua história.
    A luta por uma educação inclusiva está presente, o preconceito com os “diferentes” e mesmo nas diferenças ainda acontecem exclusões como o diretor, também cego, que não aceita um mundo melhor para seus alunos, excluindo aqueles que não se rendem as suas limitações.
    Uma cena muito importante é a do Mirco andando de bicicleta com a sua amiga, ela passa a ser os olhos de Mirco. A questão que salta aos meus olhos é que podemos ser os olhos para alguém, ou quem sabe o som, ou quem sabe ainda os movimentos, promover risos, olhar como outros olham, colocar a venda nos olhos ou tampar os ouvidos.
    O padre que custou um pouco para entender sua função na sala de aula e que descobre talentos, o diretor que nunca descobriu.
    A história tem o poder de nos fazer refletir. Depois de tantos olhares ainda lanço meu olhar sobre a necessidade que uma criança tem de proteção e respeito para o desenvolvimento da sua individualidade.

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  2. A língua das mariposas (José Luis Cuerda, Espanha, 1999, 1h37’)

    ANDRÉ LUIZ UMEKI MACHADO

    Ambientado na Espanha, década de 1930, A língua das mariposas retrata um período de mudanças no clima político do país, que precede a Guerra Civil Espanhola. O enredo gira em torno da construção da vivência entre o menino Mocho e seu professor, Dom Gregório.

    A relação entre professor e aluno se dá, incialmente, na escola. Mocho tem problemas respiratórios, por isso começa a frequentar a escola depois dos outros colegas. Don Gregório passa então a fazer a mediação dessa transição do ambiente familiar para o ambiente escolar. Diferentemente da prática hegemônica da época, Don Gregório não usa de violência ou autoritarismo para exercer sua função de educador – mesmo quando é cobrado por um dos pais para que o faça. Sua recusa diante dos alunos em aceitar o suborno na tentativa que fazê-lo mudar de abordagem, mostra o papel de educador que Dom Gregório assume. Sua atitude torna-se uma referência para os alunos, que estão passando por um processo de formação: não apenas acadêmica, mas também como seres humanos e cidadãos. Após uma briga entre Mocho e José Maria, um de seus colegas, o professor não os castiga, nem os repreende – ele pede para que eles deem um aperto de mão, ensinando o valor e a importância do perdão e do bom convívio dentro da sociedade. Dom Gregório também desperta o interesse dos alunos ao falar sobre as formigas, aranhas e mariposas e como elas interagem e se encaixam no mundo onde vivem. Após o convite inicial ao conhecimento, o professor leva os alunos para aprender sobre a natureza na própria natureza, observando presencialmente os fenômenos que antes apenas foram discutidos em sala de aula.

    Dom Gregório atua de maneira importante da educação de Mocho como homem, como ser humano. Ele faz um paralelo entre o conhecimento ensinado sobre um pássaro (tilonorrinco), que leva uma orquídea para a fêmea como forma de enamorá-la, e encoraja Mocho a fazer o mesmo: levar uma flor para a menina que está tomando banho no rio com as colegas. O filme também trata da perda da inocência infantil, tanto de Mocho quanto de seu irmão mais velho, que passam a se reconhecer como homens que têm sonhos, aspirações e desejos. No entanto, o momento mais crítico no processo de amadurecimento de Mocho, e o entendimento de seu lugar no mundo como parte de uma sociedade, se dá após a prisão de Dom Gregório, que apoia a causa republicana. Quando a mãe pede para que Mocho minta, e se perguntado diga que o pai nunca deu nenhum presente ao professor, começa o dilema do choque entre a(s) realidade(s) e as visões de mundo naquele momento. Quando Dom Gregório é levado para um caminhão para ser transportado, a mãe pede para que Mocho e o pai agridam verbalmente o professor, por medo de que ela e a família sejam reconhecidos como republicanos e acabem tendo o mesmo fim de Dom Gregório. Mocho, ainda sem o entendimento total sobre o que está acontecendo, obedece à mãe, e percebe-se o conflito interno do menino, que se sente forçado a atender ao pedido da mãe, pois precisa escolher entre o mundo familiar e o mundo exterior, representado pela relação dele com o ex-professor. Ao chamar o professor de “tilonorrinco” e “tromba espiral”, percebemos que Mocho ainda não sabe exatamente o que está acontecendo, e age de maneira análoga às pessoas ao seu redor.

    A língua das mariposas também retrata a relação política entre escola e sociedade, sendo ambas forças que atuam uma em oposição à outra. Se por um lado a escola forma cidadãos, os próprios cidadãos, através do Estado, governantes e pais, também exercem pressão para que suas visões de mundo prevaleçam no ensino dado nas escolas. Cabe aos professores educar os alunos para que possam desenvolver o pensamento crítico, a empatia e o conhecimento formal, para alcançarmos o ideal de uma sociedade justa e igualitária.

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