domingo, 25 de outubro de 2020

Grupo 5: 04/11/2020

Limbo (ou de que quem sofre bullying)

Limbo é um curta-metragem publicado em 18 de agosto de 2018, produzido por alunos do Infantil 1 da Oficina de Apreciação e Criação de Cinema, ministrada por Sihan Félix. Este curta sem falas e em preto e branco nos transmite um sentimento muito forte de tristeza e solidão. Na atualidade as escolas e famílias enfrentam um grave problema que afeta diretamente crianças e adolescentes, bullying, termo assustador que define um comportamento agressivo, violento e abusivo, o qual pode desencadear sérios problemas físicos, psicológicos e emocionais, tanto para os agressores mas principalmente para as vítimas que o sofrem.

Esse assunto tem a capacidade de influenciar negativamente na vida e principalmente na educação escolar dos alunos, bem como desestabilizar a relação entre família e educação. São muitos os casos em que quem sofre bullying se nega a voltar à escola e encontrar os colegas e/ou agressores, com isso, acabam se isolando e se distanciando dos demais.

O curta mostra o sentimento da vítima que sofre geralmente com este ato, levando-a a um descontrole emocional, pois, mesmo em seu descanso, ela tem a presença fortemente dos agressores. Limbo inicia com uma adolescente dormindo em uma sala da escola, seguida por uma trilha sonora de filme de terror, onde aparecem pessoas ao seu redor, como se fossem fantasmas em cima dela. Ao ouvir batidas na porta ela se levanta e se dirige ao banheiro para lavar o rosto, após sair do banheiro responde a uma mensagem no seu celular e diz que estava dormindo na escola, então se posiciona para tirar uma selfie e enviar para o contato, porém, leva um grande susto, pois
 os fantasmas aparecem na imagem da  câmera, desesperada a menina grita e chora sozinha no corredor. A menina decide voltar para sala onde estava dormindo e ao abrir a porta algo inesperado acontece.

Podemos interpretar os fantasmas como os julgamentos alheios que a acompanham, o curta causa uma certa incerteza sobre a mensagem que quer passar nos deixando em dúvida do que realmente está perseguindo a menina; a trilha sonora dá um ar aterrorizante e a imagem escura é um tanto sombria. Demonstra um trabalho coletivo dos adolescentes, intrigante e com muitas mensagens subliminares, que precisa até mesmo muita atenção do telespectador para poder ter compreensão e entendimento das cenas que acontecem.

A discussão que aborda Limbo se faz muito pertinente e importante principalmente na escola que na maioria das vezes é onde ocorre o bullying. As consequências são muitas desde o desinteresse e isolamento já citados, como o pânico, ansiedade, medo, até mesmo uso de drogas, baixa autoestima, falta de confiança, etc. Consequências estas que podem ser levadas para a vida adulta se não tratadas. Tal a importância da abordagem como no curta, surgindo a oportunidade de reflexão dos estudantes e prevenção destes tipos de ações nas escolas.

Os melhores amigos de um robô

Os melhores amigos de um robô é um curta-metragem brasileiro, produzido no ano de 2018, por alunos do 1° ano matutino, por intermédio dos professores Karina Sena e Sandro Cordeiro. Ele nos apresenta a história de uma grande e importante amizade entre três crianças e um robô.

Este curta traz, a nós, a importância da inserção da educação midiática na educação infantil, que tem por objetivo ampliar a participação e a informação das crianças na cultura das mídias presentes em seu contexto, afinal, percebemos que o curta acontece no espaço escolar, quase todo ao ar livre, possibilitando também o contato das crianças com a natureza, e são nestes momentos que a criatividade surge.

O roteiro é baseado nos desenhos produzidos pelas crianças, e são elas as próprias cinegrafistas, figurinistas, narradoras, protagonistas, cenógrafas e diretoras.

Este é um curta narrado, que nos traz a história de três amigos: Marta, Antônio e Joaquim, que estão de férias e vão pra um acampamento e lá vivem muitas aventuras. Eles trazem para o público uma amizade verdadeira e especial, principalmente quando à noite no acampamento acordam com barulhos estranhos e ao saírem das barracas veem o robô Bob que Marta construiu de sucatas com a ajuda dos pais todo quebrado. Antônio e Joaquim percebem a tristeza da amiga e, durante o acampamento, decidem ir em busca de novas sucatas para concertarem Bob e deixarem a amiga feliz novamente. Os meninos se arriscam nos perigos da mata e é neste momento que se perdem, mas alguém muito especial ajuda os meninos a voltarem e entregarem o robô reconstruído pra amiga que agradece os meninos pela amizade deles.

Os melhores amigos de um robô é um curta interessante pra pensarmos que crianças podem sim ser grandes atores e atrizes, e que o cinema é sim importante ser trabalhado, principalmente quando se busca apresentá-lo com o que se tem disponível e de fácil acesso, mostrar que com o que se tem dá de fazer excelentes e importantes criações, é isso que vemos neste curta que foi produzido na escola pelas crianças, que com os materiais disponíveis fizeram uma grande criação, uma história muito bonita que retrata a importância de uma amizade, pois ao se depararem com a tristeza da amiga, os amigos sensibilizados fazem de tudo e se arriscam para vê-la feliz novamente.

Este curta serve de inspiração para trabalhar o cinema com as crianças, afinal é todo produzido por crianças comuns, é uma produção simples, mas com uma complexidade de elementos que a torna riquíssima, desde os desenhos até as filmagens.

Escrito por: 
Ana Carolina Koerich, Constância, Larissa Machado, Thayene Esquivel

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Grupo 4: 21/10/2020

Coraline e o Mundo Secreto (Coraline, 2009, de Henry Selick)

























Título original: Coraline
Direção: Henry Selick
Autor: Neil Gaiman
Canção original: Other Father Song
Data de lançamento: 6 de fevereiro de 2009 (Mundial) e 13 de fevereiro de 2009 (Brasil)
Duração: 100 minutos
Nacionalidade: EUA
Classificação: L - Livre para todos os públicos
Gênero: Animação, fantasia, família

Henry Selick, diretor de sucessos como “O Estranho Mundo de Jack” (1993) e “James e o Pêssego Gigante” (1996) retornou em 2009 para o mundo mágico de criaturas fantásticas que ganham vida através da técnica do stop motion em “Coraline e o Mundo Secreto”. No roteiro, que é adaptado da obra de Neil Gaiman, que fez parte da produção e deu palpites na narrativa, somos apresentados à Coraline Jones e seus pais, que se mudam para uma velha casa um tanto peculiar que tem 150 anos de idade e é rodeada de vizinhos excêntricos. Os pais são escritores, e Coraline não recebe muita atenção deles, por isso se sente deixada de lado; os vizinhos são um malabarista de circo, duas velhas atrizes confusas e um menino que vive com a vó chamado Wybie, com quem Coraline vive implicando. A garota tenta chamar atenção dos pais o tempo todo, até que o pai dá uma missão para ela, explorar a casa. A partir dessa exploração a garota abandona tais frustrações com a vida no momento em que se depara com uma porta pequena trancada e a chave que a abre. Pensando no cinema (ou na literatura) de uma forma mais geral, a premissa de Coraline é semelhante à de obras como: Alice no País das Maravilhas (1951), Labirinto – A Magia do Tempo (1986) ou O Mágico de Oz (1939). Assim como em Coraline, todos esses filmes nos apresentam crianças/jovens que seguem uma jornada básica: a protagonista é uma garota curiosa, corajosa e criativa; estão um tanto entediadas com suas vidas monótonas, que aos olhos delas é sem graça e nada divertida; e elas conhecem um mundo mágico que ao mesmo tempo em que é estranho e tenebroso também é deslumbrante.

 Ao atravessar a porta Coraline descobre uma outra dimensão, ela é levada para um mundo paralelo que imita o mundo dela, mas muito melhor, porém os personagens (menos a Coraline) têm os seus olhos substituídos por botões de roupa. Se esse mundo estava na imaginação dela ou não (fato reforçado por essas passagens para o outro mundo acontecerem algumas vezes quando ela estava dormindo) não fica bem claro, há discussões de quem acredita que tudo não passava de sonhos, pelo fato de a vida dela não ser o que queria, então criou de forma onírica um mundo todo pra ela no qual tudo era perfeito, a comida era boa, tinha bastante brincadeiras com seus pais e tudo era incrível, mas em dado momento, percebeu que ela estava querendo trocar o mundo real pelo mundo criado. A dilapidação de sua velha casa no mundo real entra em contraste com as cores fortes e vibrantes desse outro mundo e seus ambientes bem organizados, criados para agradar Coraline. Lá ela também encontra uma outra mãe e um outro pai, iguais aos seus pais verdadeiros. Esses outros pais buscam mostrar para Coraline que são tudo o que os pais dela não são, seja na atenção que dão para ela ou pelo fato de a mãe cozinhar comidas gostosas. Lá ela volta a ter coisas das quais sente falta: lazer garantido e sensação de pertencimento, por ser acolhida. No mundo real Coraline não sente que pertence ao mundo de seus pais. Porém, a garota percebe que ter seus desejos atendidos nessa outra dimensão tem um custo alto. Ela descobre que a outra mãe é na verdade a Bela Dama, uma criatura que está interessada em tomar sua alma, e que todo aquele mundo é apenas uma ilusão que logo desaparece. Há fantasmas de criança aprisionadas na casa, que ela só os encontra quando não obedece a ordem da outra mãe, que deseja costurar os botões no lugar de seus olhos, que é quando ela se dá conta de que se trocar seus olhos pelos botões, ela perderia a sua liberdade e ficaria sob o comando da segunda mãe. Nesse momento ela percebeu que não podemos fugir da realidade para esse nosso porto seguro, nele a gente abre mão de coisas únicas como a liberdade. Quando há recusa, ela é colocada num quarto junto com as crianças fantasmas, que relatam seus dramas, e pedem sua ajuda para conseguirem se libertar. O gato de Wybie também ajuda na empreitada, já que ele consegue transitar entre os dois mundos. Depois de tudo isso, Coraline foge e com muita dificuldade chega no mundo real, porém a sua jornada para valorizar seus verdadeiros pais não acaba por aí. Eles são raptados e Coraline precisa enfrentar novamente o outro mundo para poder resgatá-los. Apenas depois de derrotar a Bela Dama e libertar as crianças fantasmas é que Coraline dá seu salto emocional e amadurece o suficiente para aceitar seus pais como são, apesar de serem um tanto negligentes. Ela também se sente mais preparada para encarar os medos da vida cotidiana e procura aproximar sua família e seus vizinhos de si, buscando fazer as pazes com o seu mundo real e com quem faz parte dele.

A narrativa é conduzida tendo como ponto principal a relação entre Coraline e seus pais, em especial com a sua mãe e a dor do crescimento, e o quão difícil e complicado é tornar-se adolescente. O embate de Coraline tanto com a mãe quanto com a outra mãe é algo comum na vida da maioria das pessoas. É normal ouvir histórias de crianças que se isolam do mundo real e criam seu próprio mundo imaginativo de maravilhas, e muitas delas sonham com essa pequena porta que pode nos levar para essa outra dimensão. Muitas vezes o mundo de fantasia é o refúgio das crianças. O filme nos aponta a importância de dar atenção para essas crianças nesse período de solidão e insatisfação do mundo real. Dar abertura para saber o que elas sentem e respeitar seus interesses é importante, pois crescer em silêncio é doloroso, principalmente no período de expansão da autoconsciência, pois é quando normalmente tendem a serem rebeldes, raivosos e revoltados. É preciso um olhar acolhedor antes de achar que tudo é drama; escutar é muito significativo.

“Coraline e o Mundo Secreto” nos oferta um olhar um tanto tenebroso da história de uma criança, mas nem por isso a narrativa deixa de ser tocante. Ao vincular esse mundo imagético com o horror, é criado uma transmissão desafiadora pela qual crianças e até mesmo adultos podem percorrer e analisar seus medos mais profundos e seus desejos de pertencimento. O arco emocional de Coraline nos revela que encarar nossos medos e angústias faz parte do dia a dia e é importante enfrentá-los. É como o próprio Gaiman escreveu na introdução de comemoração ao décimo aniversário do livro “Ser corajoso não quer dizer que você não está com medo. Quer dizer que você está com medo, mas fez a coisa certa de qualquer jeito”. A vida de Coraline pode não ser perfeita, mas é isso que a torna real.

Esse filme é indicado sim para crianças, podendo trabalhar o assunto da imaginação, da fuga da realidade, de como lidar com conflitos sendo eles familiares ou pessoais. Além disso trabalhar o entendimento do seu lugar no mundo, saber que cada pessoa tem o seu tempo e jeito de ser. Elas não precisam ser ou agir como você espera, mas nem por isso deixam de ser interessantes, basta você mudar o seu jeito de olhar para elas, suas expectativas.


Escolhas da Vida (Alike, 2015, de Henry Selick)
























Título original: Alike
Produtor: Daniel Martínez Lara e Rafa Cano Méndez
Roteiro: Daniel Martínez Lara
Ano de produção: 2015
Data de estréia: 6 de novembro de 2015 (mundial)
Duração: 8 minutos
Nacionalidade: Espanha
Classificação: L - Livre para todos os públicos

Gênero: Animação, drama, família


O curta-metragem espanhol “Escolhas da Vida” (2015), de Rafa Cano Méndez e Daniel Martínez Lara nos traz a questão do como guiar os filhos para um caminho certo. E é quando nos ocorre a pergunta: qual é o caminho certo?

Em seus curtas anteriores Daniel Martínez Lara já trabalhou com a questão de mudanças na vida e na rotina, em “Escolhas da vida” ele agrega tudo isso à experiência de criar um filho e nos mostra como funciona essa relação paternal. Situados em uma cidade grande acompanhamos o vínculo de um pai e um filho e sua trajetória agridoce.

Uma animação sem falas, mas que com as ações dos personagens conseguimos identificar suas emoções. Uma sociedade que não tem cor, mas as crianças nascem coloridas e com passar dos anos vão perdendo e se tornando cinzas como os adultos. Uma sociedade que padroniza todos. Para se comportarem de uma certa maneira para serem aceitas no grupo – criança fora desse parâmetro não é aceita. E aí começam todos os problemas. A criatividade vai sendo censurada, a criança vai perdendo seu brilho e alegria. Um pai já afetado pelo sistema vai aos poucos arrastando seu filho para esse mesmo caminho, transformando a escola em uma obrigação árdua e o limitando das artes (música, desenho). O curta-metragem mostra a triste realidade de uma vida monótona e cheia de responsabilidades em que a cor do personagem demonstra seu sentimento. Mostra o dia a dia de um responsável e uma criança que vive feliz e cheia de imaginação até o momento que se depara com a escola. O responsável coloca na mochila da criança os livros que podem ser interpretados como a responsabilidade que a escola traz. O pai segue para o seu serviço e constantemente demonstra sua frustração com o mesmo.

Podemos ver que o modelo educacional segue a mesma linha que as fábricas, que o aluno é uma conta bancária e devemos depositar  o conhecimento nele. A vida segue e os dois ficam cada vez mais frustrados com tudo.  A empolgação do filho com as coisas boas da vida é o que dá forças e faz o pai se sentir melhor, embora inicialmente ele não se dê conta disso. À medida em que a jornada de trabalho diária vai chegando ao fim o pai vai perdendo seu brilho e sua cor, devido ao cansaço e as frustrações relacionadas a seu emprego; e é o reencontro com o filho após o expediente que revigora suas forças. Mas de tanto ser repreendido por não fazer as coisas do “jeito certo” (desenhar ao invés de copiar o alfabeto corretamente, ou apreciar um violinista tocando em meio ao caos da cidade) o garoto vai desanimando com o mundo em geral e vai perdendo seu entusiasmo natural.  Na escola a criança é podada e impedida de ser livre, tendo que seguir um padrão de ensino. Quando o pai se dá conta disso, percebe o quão errado foi por não manter um equilíbrio na vida da criança e busca melhorar suas atitudes. É possível observar isso quando ele leva o menino para ver o violinista tocar e ao chegar no lugar de costume não encontram o músico, o pai se posiciona no lugar em que o violinista ficava e começa a tocar um violino imaginário, o que encanta o filho e deixa as pessoas em volta admiradas – o menino fica feliz e sua cor vai retornando, pai e filho voltam a ser mais entusiasmados. O filme nos traz a importância de permitir que as crianças façam as suas próprias jornadas. Afinal quem disse que não se pode aprender desenhando, ou apreciando uma música? A criatividade não pode ser sufocada pela rotina diária.

A animação faz uso de cores frias e desbotadas para retratar as mudanças de sentimentos dos personagens, tal como a alienação e estresse que a cidade causa, que bate de frente com as cores saturadas usadas nos desenhos do menino, ou no local no qual o violinista está posicionado. O curta também faz muito uso de closes e planos médios, usados para exibir melhor as expressões faciais e as posturas corporais, pois é assim que os conflitos são transmitidos, já que o filme não tem falas. Os planos abertos e gerais, por sua vez, nos apresentam a cidade e todas as situações rotineiras e repetições que vão acontecendo na vida dos protagonistas.

Este é um ótimo curta para assistir em sala com as crianças, pois de uma maneira delicada a narrativa expõe o quão é valoroso o diálogo nas relações entre pais e filhos, a identificação da criança com o exemplo exposto e o cuidado que se tem que ter com a escola para que não se torne um lugar que só sabe padronizar e esquece de olhar para as especificidades de cada um. Sem esquecer da relevância da criatividade e do lúdico. Imaginar sempre! A arte nos alegra e nos dá um colorido. Precisamos de arte para viver, não só o trabalho, estudo. Mas a sensibilidade diante da vida é que nos faz únicos. Desenvolver a criatividade nas crianças para que se tornem felizes.


Escrito por: Denise Maria Costa, Flávia Nazaré Fermiano e Thayane Karina Ferreira

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Comentário sobre o curta “Campeonato de pescaria” - Por Tatiana Maria Alexandre


 

Imagina a surpresa de assistir um curta no qual se passa no lugar onde você e toda sua família cresceram, ou mais, assistir um curta que retrata uma história que poderia ter sido vivida por ti e que traz cenas que são mais familiares do que o costume nessas obras, ou ainda mais, reconhecer em todo esse cenário um rosto familiar da sua infância... Foi assim que me senti quando assisti o curta “Campeonato de Pescaria” da Luiza Lins e Marco Martins.

O curta traz a história de um menino, o Dudu, que está se preparando para um campeonato de pesca que vai ter na vila. A família do Dudu têm como tradição a pescaria, o avô do menino era conhecido como um dos melhores pescadores, agora Dudu está com a pressão de perpetuar a tradição familiar e mostra insegurança quanto a isto, mas a avó do menino o tranquiliza e conta um segredo de família, que é revelado no dia do campeonato.

Vi no curta minha infância retratada, filha de um homem que pesca há 49 anos no Pântano do Sul, praia onde se passa o filme, e de uma mulher que além de pescadora nasceu e morou até os seus 24 anos na beira da praia do Pântano. Com tudo isso, minha infância se passou em grande parte na beira desta praia, aprendendo a nadar, pescar e salvar as sardinhas que meu pais deixavam pelo caminho na areia.

Durante o curta fui percebendo elementos que me traziam lembranças: o cesto de palha, a vara de pescar, o pescador remendando rede, o rancho dos pescadores, os botes na água, o mar tranquilo. É indescritível a sensação que tive quando fui percebendo que aquele curta poderia ser facilmente sobre minha infância, ou sobre a infância de alguém que eu conheço; fez com que eu me sentisse inclusa no mundo das produções cinematográficas, essa identificação e sensação de pertencimento é um elemento importante quando penso na educação e inserção social. Quando a criança, ou adulto, se identifica nessas obras a sensação é que não estamos sozinhos, que existem outras pessoas que vivem em uma realidade parecida com a sua e aquela complexidade aparente da sua vida é mais comum do que imagina e isso pode trazer uma leveza para as adversidades.

O ponto mais importante pra mim é quando os barcos vão para as águas e se dá início o campeonato, não apenas por ser o clímax do curta, mas porque no barco do Dudu reparei no homem com camiseta azul, que conduzia o bote, e percebi que aquele senhor fez parte da minha infância, era o seu Lé, amigo de longa data do meu pai e companheiro de pesca. No mesmo instante fiz questão de procurar o meu pai e mostrar seu hoje falecido amigo; não apenas por esse motivo, mas também por saber a importância que ele daria ao ver seu bairro e seus amigos numa produção que sua filha assistia para uma disciplina da sua graduação. E ficamos nós dois ali, comentando sobre o tempo em que íamos pescar na praia do Pântano, diante da imagem pausada do seu Lé.

Tatiana Maria Alexandre, 13 de outubro de 2020.