No início dos anos 90 do século
passado, o conceituado diretor de cinema, Helvécio Ratton, foi o responsável
por façanhas nada fáceis de serem realizadas no concorrido “mundo” do cinema
infantil, principalmente se tomarmos como referência as produções atuais
recheadas de blockbusters,
personagens emblemáticos e sucessos em versão 1, 2 e 3.
![]() |
Clique aqui para conhecer o site do Maluquinho |
Com o longa Menino Maluquinho (1994), o diretor traduziu o imaginário
construído pela literatura da famosa obra de Ziraldo a partir de referências
próprias, usando como “alimento” a infância que viveu, nos idos anos 60. E, naquela
época, o consumo – de produtos ou mesmo na figura da publicidade – não estava
presente no seu brincar, no seu “imaginar e significar”, pelo menos não da
forma como ela se faz hoje.
Fiel, o diretor manteve-se firme
na opção de não utilizar o merchandising
– técnica de divulgação de marcas e produtos no qual estes são inseridos no
contexto da história de forma mais natural possível – para não cortar o ritmo,
a caracterização, o “fio da meada” do livro transmutado em roteiro. Afinal,
representação, cultura, infância e o próprio tempo não se congelam com o
recurso da tecla pause, só mesmo
quando a fantasia é alçada à produção – nesse caso um audiovisual, como um
filme.
Ratton, ou melhor, Maluquinho,
brincou com as referências de seu tempo e influenciou diversos outros modos de brincar,
de pensar a infância e mesmo de ser criança. Mas como no livro, também com o
filme o ingrediente principal da brincadeira foi a imaginação. Teria essa mesma
substância, capaz de transformar panela em chapéu, perdido a magia e privado as
crianças de hoje – permeadas pela publicidade infantil – de criar, imaginar e
inventar brincadeiras com as referências do seu tempo?
Como pensar os 3 P’s – participação, provisão e
proteção – que ratificam o sentido de cidadania da infância e da criança na
sociedade sem possibilitar o acesso ao consumo, característica mais marcante da
atualidade? E, apesar de ser uma pergunta central, só pode ser respondida se
tomarmos como referência a criança em seu tempo atual. Como disse Ratton, não
podemos esquecer que “há outras formas de prazer infantil, há outras formas do
brincar”. (1997, p. 57)
Confira o filme na íntegra aqui.
*Postagem realizado por ocasião da aula do dia 28/05/2013
RATTON, Helvécio. Brincar x Consumir. In SOUZA, S.J. (org). Infância, cinema e sociedade. Rio de Janeiro, Rauil, 1997
RATTON, Helvécio. Brincar x Consumir. In SOUZA, S.J. (org). Infância, cinema e sociedade. Rio de Janeiro, Rauil, 1997