sexta-feira, 31 de maio de 2013

Brincar x Consumir??

No início dos anos 90 do século passado, o conceituado diretor de cinema, Helvécio Ratton, foi o responsável por façanhas nada fáceis de serem realizadas no concorrido “mundo” do cinema infantil, principalmente se tomarmos como referência as produções atuais recheadas de blockbusters, personagens emblemáticos e sucessos em versão 1, 2 e 3.

Clique aqui para conhecer o site do Maluquinho
Com o longa Menino Maluquinho (1994), o diretor traduziu o imaginário construído pela literatura da famosa obra de Ziraldo a partir de referências próprias, usando como “alimento” a infância que viveu, nos idos anos 60. E, naquela época, o consumo – de produtos ou mesmo na figura da publicidade – não estava presente no seu brincar, no seu “imaginar e significar”, pelo menos não da forma como ela se faz hoje.

Fiel, o diretor manteve-se firme na opção de não utilizar o merchandising – técnica de divulgação de marcas e produtos no qual estes são inseridos no contexto da história de forma mais natural possível – para não cortar o ritmo, a caracterização, o “fio da meada” do livro transmutado em roteiro. Afinal, representação, cultura, infância e o próprio tempo não se congelam com o recurso da tecla pause, só mesmo quando a fantasia é alçada à produção – nesse caso um audiovisual, como um filme.

Ratton, ou melhor, Maluquinho, brincou com as referências de seu tempo e influenciou diversos outros modos de brincar, de pensar a infância e mesmo de ser criança. Mas como no livro, também com o filme o ingrediente principal da brincadeira foi a imaginação. Teria essa mesma substância, capaz de transformar panela em chapéu, perdido a magia e privado as crianças de hoje – permeadas pela publicidade infantil – de criar, imaginar e inventar brincadeiras com as referências do seu tempo?

Como percebemos em nossa aula, os a publicidade é uma linguagem persuasiva que, há muito, mantém sua função de informar e mover o consumidor, seja ao conhecimento de um produto ou ao ato mesmo de compra. Entre tentativas e erros, a novidade (e o “nó”), está na concepção de infância e o lugar da criança na atualidade.


Como pensar os 3 P’s – participação, provisão e proteção – que ratificam o sentido de cidadania da infância e da criança na sociedade sem possibilitar o acesso ao consumo, característica mais marcante da atualidade? E, apesar de ser uma pergunta central, só pode ser respondida se tomarmos como referência a criança em seu tempo atual. Como disse Ratton, não podemos esquecer que “há outras formas de prazer infantil, há outras formas do brincar”. (1997, p. 57)


Confira o filme na íntegra aqui.

*Postagem realizado por ocasião da aula do dia 28/05/2013

RATTON, Helvécio. Brincar x Consumir. In SOUZA, S.J. (org). Infância, cinema e sociedade. Rio de Janeiro, Rauil, 1997 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Experiências fílmicas e suas mediações



Turma nova, reorganização da proposta e outras possibilidades de registro e uso desse espaço em 2013.1.

Se algumas experiências didáticas se repetem, como o grupo é outro, e agora também conta com  presença de Lyana Miranda (doutoranda no PPGE/UFSC com Estágio Docência nesta disciplina) conseqüentemente, as formas de relação e interação são e serão diferentes. 

Como síntese do percurso trilhado até aqui com a turma de 2013.1, podemos elencar algumas passagens:

- A vivência de cada um com os filmes na infância e o que marcas ficaram como possibilidade de experiencia?

- Cinema Paradiso   e as possibilidades de entender o cinema na vida das pessoas em outro tempo e espaço.  

-Oficina sobre História do Cinema, curiosidades  e aspectos históricos que marcaram desde a evolução dos equipamentos e máquinas, cineastas pioneiros, marcos e rupturas do cinema mudo ao 3D, com participação especial de Ally Collaço.

- A invenção de Hugo Cabret que mostra um reencontro com o cinema pelas mãos da criança, sintetizada através de olhares que remeteram : história, emoção, origem, sensibilidade, curiosidade, persistência, descoberta, cinema-criança, autômato/robô, orfandade, real/fantasia, esquecimento/lembrança, máquina/humano, com o texto/resenha   
 publicado na revista EntreVer para leitura complementar.  

- A reflexão sobre Cinema e educação a partir das perspectivas da mídia-educação como possibilidade de pensar o cinema na escola, a análise de filmes em contextos formativos e alguns critérios para pensar a adequação de filmes para crianças assistirem e suas mediações.

-  O garoto selvagem e o estranhamento diante de outro e de outra estética: ineditismo da cultura na vida de um garoto selvagem; estímulo –resposta; perder em força para ganhar em sensibilidade; papel da linguagem e da educação:  “não é mais selvagem mesmo não sendo homem”

-   Vermelho como o céu  e impressões como : "Estou emocionada e sem palavras", "Muito rico, deu para ver tudo, a mídia-educação, as crianças, a brincadeira, a imaginação", "deu até vontade de trabalhar com crianças especiais", "filme que permitiu nos colocar no lugar das crianças", "fiquei encantada e também queria ver um filme assim, com a venda nos olhos e só ouvindo", " a felicidade e alegria de ir ao cinema mesmo sem poder ver",  "a infância e criança produtora de cultura mostrando a criança como sujeito de direitos", "é muita coisa que o filme traz, tudo muito novo para mim, precisa uma reflexão bem grande sobre isso para entender tudo o que o que o filme se propõe. Achei lindo demais!"

- Elementos da linguagem audiovisual: códigos e significados na construção na narrativa fílmica: imagem (luz, cores, planos, enquadramentos, ângulos), áudio (som, diálogos, ruídos, música, trilha sonora), legenda, efeitos especiais, etc.

- Experiência do cinema na sala de exibição: Meu pé de laranja-lima. Questão inevitável: filme triste é filme para criança? 

Crianças invisíveis e as condições da infância em diversos contextos socioculturais e como essas questões interpelam aos que atuam com educação?

- História sem fim. E quem não lembra  de uma história que foi referencia para tantos outros filmes? Que diferenças podem marcar a experiência de assistir a um filme quando pequeno e depois de grande? Como a imaginação convoca o espectador em geral e a criança em particular para mergulhar no filme?

- A pequena Miss Sunshine e e uma visão diferente da criança; divertido e bem humorado; crítica aos padrões e valores da sociedade; crítica aos padrões de beleza; adultização; conflitos infância/adolescencia; união da família a partir de um "sonho" de criança e de tragédias cotidianas. Questões para  pensar: o papel da criança, do adolescente e dos adultos  na trama; noção de corporeidade e modos de ver e ser visto; formação como travessia, possibilidade de transformação e redescoberta